A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), realizou nesta terça-feira (16/05) uma diligência ao Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A visita de fiscalização foi motivada por denúncias recebidas durante uma audiência pública realizada em abril sobre violência obstétrica.
“Nós recebemos algumas denúncias, viemos ver de perto qual é a situação do hospital. Foi aberta uma sindicância e nós vamos acompanhar esse processo”, comentou a deputada Renata Souza, que preside a Comissão da Alerj.
A deputada vistoriou diversos setores do hospital, como a UTI, o espaço para amamentação e a sala S.O.S. Mulher, destinada a acolher e auxiliar mulheres vítimas de violência sexual. Ela também questionou o cumprimento de medidas que garantam, por exemplo, o acompanhamento da doula durante o parto e a entrega voluntária de recém-nascidos para a adoção.
As condições de trabalho no hospital, como o número de funcionários em cada área e a escala de plantões, também foram analisadas. Mensalmente, o hospital realiza reuniões para capacitar novos funcionários. Outra análise foi em relação ao funcionamento das comissões no hospital, como a que analisa as causas dos óbitos ocorridos na instituição.
“A gente quer que o hospital ofereça 100% da qualidade do serviço e, a cada denúncia ou situação que vulnerabilize uma mulher, nós estaremos atentos para poder cobrar explicações. Nesse primeiro momento, a gente entendeu que as informações que nós solicitamos foram atendidas a contento”, comentou Renata Souza.
Dentre as principais demandas do hospital, está a reposição de estoques de leite materno e de sangue. “Uma campanha permanente é fundamental para suprir as necessidades do banco de leite do hospital. A gente também viu que o estoque de sangue está muito abaixo do mínimo para que o hospital funcione devidamente”, disse a deputada.
Casos de repercussão
A direção do hospital foi questionada sobre casos que tiveram repercussão, como o da jovem Alessandra dos Santos, que teve complicações em uma cirurgia de retirada de um mioma, e do anestesista denunciado por violentar pacientes na sala de cirurgia. O diretor geral do hospital, Abrahão Viana, explicou que a instituição está acompanhando os casos.
“Já existe uma sindicância na Fundação Saúde”, comentou Viana, que explicou que a cirurgia de retirada do mioma tinha o risco de ser prosseguida por uma histerectomia, que ocasionou uma alteração na coagulação sanguínea. “Todo o passo-a-passo foi informado à paciente. O quadro dela ficou muito grave. Em menos de 24 horas, ela foi transferida para unidade referência em vascular”, explicou o diretor, destacando que a transferência se deu logo que a paciente apresentou um quadro estável.
No caso do anestesista, o hospital prontamente substituiu o profissional para continuar os procedimentos de anestesia e prestou total auxílio às enfermeiras que denunciaram o caso. As funcionárias foram acompanhadas por psicólogos e durante o depoimento à polícia, por advogados. “As enfermeiras estão preocupadas, mas elas sabem que têm o acolhimento da instituição”, explicou a enfermeira Maria Aparecida, responsável pelo setor.
Cesariana: metade dos partos
No Hospital Heloneida Studart, cerca de 52% dos partos realizados na instituição são por meio de cesariana. Segundo o diretor, o percentual elevado é porque muitas das pacientes que chegam ao hospital, que só atende a casos de alto risco, não tiveram acompanhamento pré-natal.
“Existe um protocolo do Ministério da Saúde e a gente segue essa determinação. Há um índice alto de cesariana porque muitas mães não têm pré-natal, e aqui no hospital você tem um pré-natal bem acompanhado, mas as que são encaminhadas de fora vêm em outra situação”, comentou Viana.
A visita contou com representação dos mandatos das deputadas Giselle Monteiro (PL), Tia Ju (REP) e Zeidan (PT), que compõem a comissão.