Pedreiro se Passa por Empresário e Desvia Mais de R$ 3 Milhões da Prefeitura de Arraial do Cabo

A Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou que Jerry Anderson de Araújo Silva, um dos alvos da operação Toque de Caixa, se apresentava como empresário enquanto era, na verdade, pedreiro e “laranja” em um esquema que desviou mais de R$ 6 milhões da Prefeitura de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio

De acordo com a polícia, Jerry era oficialmente contratado como auxiliar de serviços gerais na Prefeitura, com um salário de R$ 1 mil. No entanto, ele se passava por dono da empreiteira ATLANTIC e assinou diversos contratos, incluindo dois com dispensa de licitação, recebendo mais de R$ 3,5 milhões do município entre 2018 e 2020.

Segundo as investigações, a ATLANTIC foi criada pouco tempo depois que o grupo político de Marquinhos de Nicomedes, que também foi preso durante a operação, assumiu o poder. Em apenas três meses, a empresa começou a receber verbas públicas.

“Esses repasses aumentaram significativamente no último ano do governo. Na reta final do mandato de Renatinho Vianna, a ATLANTIC recebeu mais de R$ 2,7 milhões, quase todo esse valor vindo do Fundo Municipal de Saúde, administrado pelos ex-secretários de Saúde Antonio Carlos de Oliveira, conhecido como Kafuru, e Paulo Roberto Trípoli Fontes, ambos também denunciados,” informou a Polícia Civil.

Outra empresa de fachada envolvida no esquema era a M.A.F. DO NAZARETH INCORPORAÇÃO E CONSTRUTORA, que também firmou contratos fraudulentos com a Prefeitura para obras em postos de saúde.

Marcos Antônio Ferreira do Nazareth, o Marquinho de Nicomedes, foi detido em uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro na terça-feira (18).

O advogado de defesa de Marquinho, Dr. Vitor Tocci, declarou que “os contratos firmados entre a empresa de Marquinhos e o município de Arraial do Cabo foram celebrados dentro dos limites da legalidade, conforme será prontamente demonstrado nos autos. Além disso, será evidenciado que a motivação da prisão foi puramente política”.

O Ministério Público do Rio de Janeiro destacou que os alvos da operação, que incluiu 12 mandados de busca e apreensão, são integrantes de uma organização criminosa que desviou verbas através de pagamentos por obras e serviços não realizados. A investigação da Polícia Civil durou quatro anos.

A operação “A Toque de Caixa” denunciou dezenove pessoas à Justiça por crimes como falsidade ideológica, peculato, corrupção ativa e passiva, ordenação de despesa não autorizada, falso testemunho e lavagem de dinheiro.

Como funcionava o esquema

De acordo com a Polícia Civil, o suspeito preso abriu duas empresas sob orientação de políticos, com o propósito de firmar contratos com a Prefeitura.

“Quando Renatinho Vianna, aliado político e amigo de infância de Nicomedes, assumiu a Prefeitura, as empresas de Nicomedes começaram a assinar vários contratos de obras com o município (mais de 30). A Prefeitura pagou ilegalmente por obras não executadas, inclusive aditivos de contrato sem justificativa e por itens não contratados”, explicou a Polícia Civil.

Ainda segundo a polícia, nos últimos dias do mandato, os pagamentos foram acelerados, resultando em milhões de reais transferidos para as empresas de Nicomedes. “O dinheiro voltou em forma de propina e foi distribuído entre os membros da quadrilha,” afirmou a polícia.

“As investigações também revelaram que as empresas eram de fachada, sem estrutura para cumprir os contratos com o município. Todos os contratos, documentos, processos de licitação e comprovantes de pagamento dessas obras desapareceram do arquivo da Prefeitura,” concluiu a Polícia Civil.

Por: Cic7 Notícias