Prefeitura de Resende repassa R$ 37,7 milhões “às escuras” para Santa Casa

Unidade de saúde do sul fluminense supostamente opera de maneira precária, já que os gastos de verba pública não passam pela lei federal de licitações

A prefeitura de Resende informou que repassou mais de R$ 37,7 milhões à Santa Casa de Misericórdia este ano. O que é objeto de questionamentos e denúncias feitas ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, MPRJ, já que o detalhamento do gasto dos recursos públicos não é informado no Portal da Transparência porque a unidade de Saúde não foi oficialmente municipalizada e utiliza o dinheiro como uma instituição privada, sem obedecer a lei federal de licitações.

A gestão de Diogo Balieiro já é responsável pelo maior rombo aos cofres públicos da história de Resende através de uma divida de R$ 322,9 milhões relatada pela prefeitura em setembro, volume equivalente a 35% da receita corrente líquida do município.

O assunto esquentou a corrida eleitoral que terminou no dia 6 de outubro, quando o ex-diretor da Santa Casa, Kaio Márcio, sagrou-se vencedor em Itatiaia com o apoio do prefeito de Resende, Diogo Balieiro. Antes disso, algumas rajadas saíram da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Alerj, contra Kaio e Diogo, por suposta tentativa de ocultação de documentos e, inclusive, desvio de verba pública, de acordo com os deputados envolvidos nas acusações.

A alegada obscuridão dos repasses à Santa Casa ganhou destaque em outubro do ano passado, quando um requerimento de informações sobre a utilização do dinheiro foi reprovado na Câmara por determinação de Balieiro aos vereadores da base dele, segundo um desses parlamentares, Roque Cerqueira. Depois do “corpo mole” do Parlamento Municipal, o assunto chegou ao conhecimento do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, MPRJ, já que o montante encoberto pode ultrapassar R$ 100 milhões nos últimos anos, volume parcialmente gerenciado por Kaio sem o crivo da lei que rege as contratações públicas.

A intervenção da Santa Casa também foi objeto de embate político na corrida eleitoral recém-terminada, já que a atuação da prefeitura na unidade de saúde aconteceu em 2016, no último ano do ex-prefeito José Rechuan, através de uma iniciativa do ex-secretário de Saúde Daniel Brito, falecido em 2022. Em 2017 e 2018, a Santa Casa contou com mais de R$ 600 mil em doações de uma montadora sediada na cidade, entre outras doações, que não têm nada a ver com Diogo e Kaio.